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Aloha significa muito mais do que "alô" e "adeus" ou "amor", significa compartilhar (alo) com alegria (oha) da energia da vida (ha) no presente (alo)”.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Saudades do Tom... 2 - Casa da Praia - Locação de Temporada/Vendas de imóveis de alto padrão na praia - Condomínio Costa Verde Tabatinga - Litoral Norte SP.




Até logo, Tom


Por Eric Nepomuceno
Lembro agora os telefonemas no final de certas tardes de certos verões de muitos anos atrás: "Venha até aqui, rápido! O dia está propício". E no estúdio envidraçado da casa do alto do Jardim Botânico estava a explicação: era dia propício para ver os micos na jaqueira, comendo jaca.
E lembro também de um domingo de 1976, em outra casa, no Leblon. Perguntei a ele se sabia exatamente porque ia ao piano. Ele pensou um instante e respondeu em voz baixa:
- Acho que é para não morrer, para não desaparecer, para não me transformar em um número. Para não enlouquecer, para fugir.
Ficou olhando o chão, sorriu e acrescentou:
- Acho também que vou ao piano para me matar.
Lembro os almoços preguiçosos das sextas-feiras no Plataforma, que se estenderam ao longo de nove ou dez anos, e as conversas que davam a volta ao mundo, e de repente ele disparava a recitar os parnasianos brasileiros, às vezes saltava tudo e cismava com Manuel Bandeira, sorria e dizia "Pois é, meu caro, nós, os bandeirosos..." E teve o dia que terminou uma frase, ficou olhando o teto e começou a cantar uma canção chamada Bom Tempo, e depois disse: "Que beleza!"
Não sei porque lembro tudo isso agora, mas lembro também, e de repente, da surpresa de meu filho Felipe, que naquela época tinha uns doze anos, ao vê-lo explicando ao garçom, paciente e detalhadamente, como queria o espinafre batidinho à faca e depois passado na manteiga. Terminada a explicação, virou-se para Felipe e advertiu em voz séria, firme e baixa:
- Olhe, Felipe. Eles adoram enrolar a gente e meter margarina em tudo. E o espinafre batidinho, você sabe, exige manteiga.
Lembro um andar meio desengonçado, um jeito eternamente maroto, o rosto iluminado por um ar travesso, sempre pronto para alguma frase arteira. Lembro também uma gorda e gasta bolsa de couro a tiracolo, e os charutos, e o chapéu Panamá.
Lembro a capacidade incessante de criar teorias do nada, mas que eram defendidas com rigor científico.
Lembro seu pavor quando alguém ou alguma coisa ameaçava seu sacrossanto direito a ficar em paz.
Lembro que todos os sábados, por volta de uma da tarde, ele apontava na nossa mesa na Cobal do Leblon.
Achava especialmente divertida a seita de todos os sábados e achava absurda a postura de todos os demais seres humanos, que em pleno sábado cometiam a incongruência de ir a um mercado público para comprar frutas e verduras quando todo mundo sabe que os mercados foram feitos para que os amigos tenham um lugar propício para beber em paz.
Lembro as mãos, os dedos um tanto desajeitados, capazes de tocar as teclas de maneira insólita e assim bordar os acordes mais inesperados e soberanos. Juntava as notas como quem junta todas as almas brasileiras numa só melodia, que na verdade nunca foi uma: foi todas.
Lembro, enfim e para sempre, que pouco depois do meio-dia de uma quinta-feira Fernando Morais ligou de São Paulo dizendo assim: "O Tom morreu". E que depois liguei para o Edu, para o Chico, para o Callado, e contei ao meu filho, e de repente senti que ninguém tinha absolutamente nada a dizer a ninguém, e então deixei de telefonar, escrevi isso que você acabou de ler e saí para a rua, para andar debaixo da chuva, porque era dezembro, é verdade, mas aquela quinta-feira amanheceu com cara de outono.
O que não quero lembrar de jeito nenhum é que há uma fileira de sábados à minha espera. E não quero lembrar, agora nem nunca, que ninguém poderá me devolver os sábados que me restam, e que eles estão desde já mutilados, da mesma forma que mutilado está meu calendário, meu tempo, pois há uma fileira de sábados à minha espera e todos eles serão sem o Tom.(1994)
Eric Nepomuceno é escritor e jornalista.

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